Fundadores


Sumária História e Nascença do Círculo Eça de Queiroz
[por Jorge Segurado, Março de 1980]

«A génese da agremiação do Círculo Eça de Queiroz surgiu inopinadamente em Nova York em 1938, embora a ideia basilar de tomar como patrono o grande escritor não tenha ocorrido então.

Mas sim, unicamente, à semelhança de um club de campo existente nos arredores daquela cidade, – por sinal só de senhoras, – enorme, rodeado de relvados e de encantadora paisagem, em edifício próprio, cómodo e eficiente. Um encanto de repouso e de convívio até intelectual.

Foi o nosso amigo Doutor Albino Tavares de Almeida, médico que amiudadas vezes visitava os Estados Unidos, quem apresentou a António Ferro, Guilherme Pereira de Carvalho e quem isto conta, uma muito simpática senhora, Mrs. Rice, mulher do Director Presidente do Canadian Club de New York.

Foi ela quem nos levou ao seu club fora da cidade e nos fizeram ali esplêndido almoço. Foi outro encanto de civilização. À volta, no automóvel, António Ferro, com o seu inquieto e fértil espírito inventivo, propôs-nos a criação em Lisboa de uma organização semelhante, para ponto de reuniões intelectuais e culturais e para regalo de convívio.

Curiosa foi tal ideia inopinadamente surgida estrada fora, com entusiasmo por ele lançada.

Discutiu-se logo vivamente, mas de nós quatro só António Ferro e eu não tivemos dúvida em acreditar firmemente numa tal realização.

Já em Lisboa, passaram-se muitos meses, mas a ideia permaneceu pura e firme em nós dois.

Num serão no Hotel Palacio do Estoril, após jantar de três amigos, António Ferro, José Júlio da Silva Bastos e quem isto escreve, discutindo Arte e Literatura, veio naturalmente ao de cima a ideia de um Círculo, onde houvesse ambiente próprio para tratar em são convívio assuntos de espírito.

Voltou o entusiasmo e a vontade expressa de se actuar, de se entrar praticamente na realização.

Logo ali ficou assente que nós três arranjaríamos listas de nomes para o efeito da constituição.

Assim foi. Dois dias depois, a ideia estava em marcha. Tomava forma.

Por escrito e por telefone fizeram-se convites para uma primeira reunião, que se efectuou no Tavares. Seguiram-se-lhe outras, não só naquele restaurante, mas também em casa de vários componentes; na do Doutor Eduardo Pinto da Cunha (Palácio do Conde de Vimioso, no Campo Grande); de Júlio Cayola, em Pedrouços; do Doutor José Alvellos, na Rua do Ataíde.

Entretanto procurou-se uma casa antiga, de campo, à volta da cidade, mas debalde, até que se resolveu procurá-la em Lisboa, mas nada capaz aparecia.

Um belo dia, porém, António Lopes Ribeiro descobre a maravilha, a casa devoluta da antiga Fotografia Vasques, ao Chiado, a par mesmo do antigo “Casino”.

O seu proprietário e nosso amigo Doutor Emílio Infante da Câmara não só concordou alugar a casa, mas também, com todo o entusiasmo, juntar-se à iniciativa, e como senhorio até contribuir na realização das obras de adaptação a fazer.

Recrudesceu o entusiasmo; e eu, como arquitecto, entrei em activa acção, com a ajuda do também arquitecto Adelino Nunes.

De braço dado deitou-se mão à obra. Tracei o plano geral da distribuição numa primeira fase. Provisoriamente, serviriam de acesso a entrada e a escada de serviços actuais.

A cobertura do imóvel foi a do grande terraço ao ar livre, onde no Verão se realizaram conferências e festivais de Teatro e de Música.

Depois, noutras obras, o terraço desapareceu e deu lugar ao grande salão, com o seu pequenino palco.

Entretanto, já a agremiação tomara nome: “Círculo Eça de Queiroz”, felicíssimo achado de quem para ali o levara, o António Lopes Ribeiro, título que foi logo unanimemente aprovado e com muito e bem justificado entusiasmo se abraçou.

Seguiu-se um jantar-festa no Hotel Aviz, o primeiro ao qual assistiu como convidado de honra o grande poeta Maurice Maeterlink, com todos os sócios.

Entretanto as obras terminaram a sua primeira fase. E em 25 de Novembro de 1940, fez-se solenemente a inauguração do Círculo Eça de Queiroz.»

A acta número 1, de 7 de Dezembro de 1940, relata o primeiro encontro da direcção eleita dois dias antes e com a seguinte composição: António Ferro (Presidente), Dr. José Alvellos, Júlio Cayolla, António Lopes Ribeiro e José da Silva Bastos.